terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A primeira de todas

Nem sempre a primeira de todas é maravilhosa: O primeiro beijo, a primeira noite, o primeiro porre… Eu me recordo de todos, mas gosto de me lembrar mesmo é do meu primeiro porre. Sem conseqüências, sem muitos danos, mas com uma ingenuidade infantil, onde reuníamos os amigos e é claro as amigas e ficávamos perto de casa, que tinha uma adega chamada Rock in Rio (nome dado exatamente em homenagem ao primeiro festival do Rio). Então, sem perceber crescemos e os amigos tomaram rumos diferentes, eu, sempre trabalhei com o público e amadureci, casei e separei e casei de novo. Montei vários negócios e então conheci o bar, de uma maneira diferente, comecei como Somellier e depois virei Bartender… Bartender por opção e bebedor por natureza, afinal alguém tem que se sacrificar pelos outros. Afinal quem iria ser cobaia dos meus experimentos se não eu próprio. Uma coisa com certeza eu tinha, se não desse certo, o drinque não iria me fazer mal. Mas deu certo, tão certo que hoje faço com gosto na Lapa e em Santa Teresa. Hoje, aqueles porres de outrora na juventude, são trocados por experiências únicas com destilados e frutas. Crio drinques e consigo unir o útil ao agradável, afinal quem pode ter na profissão a permissão de ficar de porre? A primeira de muitas, ou simplesmente a primeira coluna que vai ter alguém para falar de drinques e bebidas não só como profissional, mas como um apreciador, assim como vocês que gostam de ter um motivo para bebemorar. Então, vamos dar o primeiro rumo de nossa prosa, onde gostaríamos de entender as bebidas, mas nunca conseguimos ficar sóbrio o suficiente para isso. A Lenda de Havana A cachaça que vale mais que dinheiro O Anísio Santiago, que já se chamou Havana, é a cachaça mais cara do País. Em Salinas, norte de Minas, onde é feita, circula como moeda. Produção limitada, com qualidade, a tornaram rara. São garrafas da cachaça tida como uma das melhores do País e sem dúvida a mais cara. Os empregados que a produzem recebem duas garrafas por semana como salário. Eles as vendem para o comércio local (que as esperam avidamente), o salário dobra de valor. Anísio Santiago, morto em dezembro de 2002, começou a fabricar sua cachaça em 1943. Deu-lhe o nome de Havana e com ela conquistou fama em todo o País (e ganhou todos os concursos que participou). Em 2001, Anísio soube que não poderia mais usar a marca Havana. Ele nunca se preocupara em registrá-la e uma empresa estrangeira o havia feito, como nome de rum. Em toda sua vida, (morreu com 91 anos), Anísio nunca tivera qualquer pendência na justiça. A cassação da marca Havana o indignou. Ele retirou os rótulos de todas as garrafas do estoque, que seriam substituídos por outros, com seu próprio nome. Não sobrou nenhuma Havana, as que já estavam no comércio viraram raridade. Muitos moradores de Salinas guardam as garrafas com a marca Havana, alguns na expectativa de uma ocasião especial para abri-las e outros a espera de valorização e do interesse de colecionadores. Oswaldo Santiago, um dos seis filhos de Anísio e o que comanda os negócios hoje, diz que seu pai não usava dinheiro. “Quase tudo o que ele comprava, pagava com cachaça. Ela era a própria moeda, o povo não queria dinheiro.” Hoje ainda é assim. Uma garrafa da bebida é bem recebida como pagamento. “Como a demanda estava aumentando cada vez mais, Anísio Santiago percebeu que tinha que tomar uma decisão de mercado: ou aumentava a produção, o que poderia comprometer o padrão de qualidade adquirido, ou mantinha o nível de produção.” Optou em manter o padrão, diz Roberto Carlos Morais Santiago, neto de Anísio. A produção não chega a 10 mil litros por safra. O que resulta em 12 mil a 15 mil garrafas por ano. Oswaldo Santiago não pretende mudar o estilo herdado do pai. “Onde há oferta o preço cai. Tem que segurar, para haver procura em vez de oferta.” A Anísio Santiago, com alma de Havana, poderia ser descrita como mitológica tal sua fama. Qual o segredo de uma qualidade tão especial? Em uma entrevista, Anísio deu algumas pistas: “Tem gente que foi alambiqueiro meu e não entende como a minha cachaça fica boa e a dele, feita igual não presta. É que o cidadão se aperta de dinheiro e vende antes da hora. Cachaça é que nem fumo, só presta velha. Antes de um ano e meio não pode vender nem para os filhos.” Oswaldo Santiago diz que a cachaça envelhece oito anos em tonéis de bálsamo, depois do envelhecimento é passada para garrafas de 600ml. A cana empregada é a Java, a pioneira da época da colonização. Roberto Carlos, o neto e filho de Oswaldo, acrescenta outros fatores que garantem a qualidade: Solo calcário arenoso, clima semi-árido, altitude média de 700 metros, emprego de fermento orgânico natural e a obsessiva higiene dos alambiques. Fonte: Alambique da cachaça Você pode encontrar o Coelho Personal Bartender na Lapa: Rua do Riachuelo nº24, prox. aos Arcos da Lapa sextas e sábados as 19:30hs e em Santa Teresa: Rua Alm. Alexandrino nº54b, prox. a escadaria da rua André Cavalcante sábados e Domingos a partir das 14:00hs até as 22:00hs

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